segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Médicos dizem ganhar menos que cabeleireiro

Vice-presidente do Conselho Federal de Medicina fala sobre paralisação marcada para dia 21; médicos pedem reajuste a operadoras.

Médicos de todo o país vão realizar uma paralisação nacional no próximo dia 21 deste mês em protesto contra as operadoras de saúde. De acordo com o CFM (Conselho Federal de Medicina), atualmente, os profissionais da categoria recebem em torno de R$ 42 por consulta, “menos que um corte de cabelo no Rio de Janeiro”, exemplifica o vice-presidente do órgão, Aloísio Tibiriçá.

Segundo Tibiriçá, a categoria tenta um reajuste de pelo menos R$ 20 nas consultas. “Os planos de saúde cresceram muito e o número de usuários, no último ano, aumentou quase 10%. Apesar disso, as empresas não aumentaram a rede de atendimento ao usuário e nem o número de médicos”, explica o vice-presidente do CFM.

A paralisação, segundo o órgão, é um desdobramento direto do ato de 7 de abril, quando houve mobilização dos médicos contra os problemas observados na saúde suplementar. De acordo com o conselho, não é possível estimar o número de profissionais vão aderir ao movimento e nem quais planos serão afetados.

Negociação

“Esse movimento do dia 21 vai ser focado nos planos que não vieram negociar ou que apresentaram proposta abaixo do valor considerado favorável aos médicos”, o que varia em cada Estado, segundo explica Tibiriçá.

Para ele, as operadoras de saúde buscam redução de custos, mas estão prejudicando os profissionais e os consumidores. “A gente quer manter a qualidade da saúde, seja pública ou privada, mas o plano de saúde não esta dando condições para isso acontecer”, avalia. “Por isso o médico é obrigado a marcar várias consultas por dia e acaba diminuindo a qualidade do atendimento. Isso para poder ter o mínimo de subsistência em seu consultório”, completa.

Tibiriçá afirma ainda que a categoria não tem recebido o apoio da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). “Nós procuramos a ANS para mediar essa situação, mas até agora a agência não tem nenhuma medida efetiva em prol da categoria. Ao contrário, ela tem uma resolução normativa de 1994, que prevê o reajuste, e não coloca em prática”, declarou.

São Paulo

Além da mobilização nacional, em todo o país organizações médicas iniciam paralisações escalonadas nesta quinta-feira e devem continuar o protesto até o dia 30 deste mês.

Médicos de diversas especialidades que atendem os convênios Ameplan, CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), Intermédica, Notredame e Volkswagen vão interromper os consultas, segundo informou o Movimento Médico São Paulo, formado pela APM (Associação Paulista de Medicina), Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo), outros sindicatos do Estado, sociedades de especialidades médicas.

Segundo o movimento, a categoria está aberta a negociar e o número de planos que serão alvo do protesto pode diminuir caso eles façam propostas favoráveis aos trabalhadores. Veja abaixo o calendário da paralisação em São Paulo.

Direito do consumidor

Para o CFM, as paralisações em todo o país não têm o objetivo de prejudicar os consumidores. Por isso, os atendimentos de urgência e emergência não serão interrompidos. “A tendência é o que não for urgência e emergência não ser marcado para esse dia”, diz.

A diretora de atendimento do Procon-SP, Selma do Amaral, acredita que o movimento não deve trazer grandes transtornos ao consumidor. “As operadoras devem estar preparadas para isso. Elas tiveram algum tempo para se organizar, pois as autoridades médicas estão anunciando há algum tempo”, comenta.

Ainda assim, se algum consumidor se sentir prejudicado, deve procurar primeiramente a própria operadora de saúde. “Na verdade a relação dele é com o plano de saúde. Ele [consumidor] tem contrato com a operadora que deve garantir o serviço contratado”, diz Selma. Caso não seja atendido, ele pode recorrer a órgãos de defesa do consumidor, como o Procon.

Saiba quais são os atendimentos de urgência e emergência

De acordo com a ANS, “os atendimentos de urgência são os resultantes de acidentes pessoais decorrentes de causas externas, ocorridos em data específica, de maneira súbita e involuntária e causam lesão física não decorrente de problemas de saúde. Também são considerados atendimentos de urgência as complicações no processo gestacional.”

Já os de emergência são os que “implicam em risco imediato de vida ou de lesões irreparáveis para o paciente, constatado em declaração do médico assistente”.

Posicionamento

A FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), entidade que congrega 15 grupos de operadoras de plano de saúde, somando 1.417 operadoras em todo o país, informou que está participando ativamente dos fóruns e debates sobre remuneração médica, liderados pela ANS, e também das câmaras técnicas da AMB (Associação Médica Brasileira).

Por meio de nota, a federação informou ainda que “suas afiliadas estão entre as que pagam os maiores honorários aos médicos. O reajuste do valor das consultas médicas praticados por afiliadas variou, de 2002 a 2010, entre 83,33% e 116,30% - índices significativamente superiores à variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado) no mesmo período, que foi de 56,68”.

Fonte: band.com.br

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