A cena é comum demais em consultórios médicos e difícil de ser engolida por quem tem ao menos dois neurônios funcionando.
Quando a sala de espera está lotada de pacientes que consultam o relógio com olhar de desespero, entra um homem bem vestido, carregando uma enorme mala, e não demora nadinha a ser levado à presença do médico, como se merecesse atendimento preferencial.
Permanece lá dentro muito além do desejado pela maioria dos pobres mortais, que geralmente passam por uma consulta meteórica, feita em ritmo de trem-bala.
Quando saem do encontro, nunca deixam apenas amostras grátis dos produtos que vendem, o que já é uma temeridade para o bolso da clientela menos abastada, dado que os médicos tenderão a prescrevê-los.
Sobre a mesa dos profissionais visitados ficam, também, convites para viagens patrocinadas pelos laboratórios. Ou melhor, ficavam.
Na plenária do Conselho Federal de Medicina, dia 16, o assunto será levado à discussão com promessa de se tornar um "caminho sem volta", como diz o presidente do CFM, Roberto D´Ávila.
Consolidada a decisão, médicos brasileiros só poderão viajar para congressos com as despesas pagas pela indústria farmacêutica se o convite for usado com o objetivo de apresentar trabalho científico, dar palestra ou curso.
Só assistir ao evento, de jeito nenhum, porque a relação entre a indústria e médicos não deve extrapolar o campo da ética.
Pode ser que a partir daí, os homens bem vestidos e com malas vistosas que chegam aos consultórios não sejam mais vistos como compradores de consciência, pois, geralmente, a ideia que se teve até hoje dessa relação é de que a conta pode acabar sendo paga pelo cliente.
Não é à toa que estudos concluem o óbvio: ao aceitar mimos de laboratórios farmacêuticos, o médico fica mais predisposto a recompensar o gesto prescrevendo os produtos do patrocinador.
Fonte: Diário de Pernambuco (Diário Urbano)
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